SOBRE O TEMPO*
Uma das coisas que aprendi com esse doutorado foi entender o tempo. Respeitar o tempo de cada coisa procurando deixar a ansiedade e a pressa de lado. Ter a paciência de esperar o tempo de maturação da pesquisa como um bebê que se forma no ventre da mãe. Nem sempre foi fácil!! A cabeça dizia: “já é hora de terminar”, mas a pesquisa pedia tempo. Precisava maturar, gerar seus frutos, florir!
Entender
os tempos da vida também se tornou fundamental. O tempo de deslocamento entre
duas casas em dois estados diferentes nas tantas viagens que habitaram meus
dias nos primeiros anos do doutorado. O tempo que meu corpo pedia para se
recuperar do cansaço dessas viagens visto que eu já não tinha mais vinte e
poucos anos... O tempo do tratamento da minha filha na luta contra um linfoma.
Tempo longo, esticado, pesado, repleto de pausas e dores que me tomavam por
completo quase não sobrando tempo algum para qualquer outra coisa. Esse tempo passou!
Questões
de saúde também afastaram por um tempo a minha orientadora. Não era mais apenas
uma questão de tempo, mas também de espaço. A distância trazia insegurança. Um
prolongado tempo de espera que a internet buscava acelerar...
Chegou
o tempo de planejar uma mudança interestadual. Pesquisar, procurar, orçar,
planejar, desapegar, embalar, desembalar, arrumar, organizar, começar uma vida
nova. Tudo isso leva muito tempo!! E cadê o tempo para a escrita da tese?! Se
fez necessário aprender a organizar melhor o tempo.
Aprendi
também sobre a relatividade do tempo. Muitas vezes tive a sensação de que
iniciei esse doutorado ontem, mas bastava olhar para as crianças que me cercam
que via em seus corpos a encarnação do tempo que passou. Algumas delas eu vi
nascer, aprender a andar, a falar, começar a ler e escrever... enquanto isso eu
pesquisava, lia, escrevia. Cinco anos pode ser o tempo de uma vida ou o
intervalo de uma história.
E
como tudo tem seu tempo, esse doutorado finalmente se encerra. Com uma sensação
de que gastou mais tempo do que deveria, mas com a certeza de que meu tempo foi
respeitado. Hoje entendo muito melhor do que há cinco anos atrás que cada um
tem seu tempo! E aprendi que o meu vai ser do tamanho que eu precisar! Porque
às vezes tudo o que a gente precisa é de um pouco mais de tempo...
Mirza Ferreira - dezembro de 2016
* Relato pessoal que escrevi como abertura do último capítulo de minha tese.