quarta-feira, 22 de março de 2017


SOBRE O TEMPO*

Uma das coisas que aprendi com esse doutorado foi entender o tempo. Respeitar o tempo de cada coisa procurando deixar a ansiedade e a pressa de lado. Ter a paciência de esperar o tempo de maturação da pesquisa como um bebê que se forma no ventre da mãe. Nem sempre foi fácil!! A cabeça dizia: “já é hora de terminar”, mas a pesquisa pedia tempo. Precisava maturar, gerar seus frutos, florir!
Entender os tempos da vida também se tornou fundamental. O tempo de deslocamento entre duas casas em dois estados diferentes nas tantas viagens que habitaram meus dias nos primeiros anos do doutorado. O tempo que meu corpo pedia para se recuperar do cansaço dessas viagens visto que eu já não tinha mais vinte e poucos anos... O tempo do tratamento da minha filha na luta contra um linfoma. Tempo longo, esticado, pesado, repleto de pausas e dores que me tomavam por completo quase não sobrando tempo algum para qualquer outra coisa. Esse tempo passou!
Questões de saúde também afastaram por um tempo a minha orientadora. Não era mais apenas uma questão de tempo, mas também de espaço. A distância trazia insegurança. Um prolongado tempo de espera que a internet buscava acelerar...
Chegou o tempo de planejar uma mudança interestadual. Pesquisar, procurar, orçar, planejar, desapegar, embalar, desembalar, arrumar, organizar, começar uma vida nova. Tudo isso leva muito tempo!! E cadê o tempo para a escrita da tese?! Se fez necessário aprender a organizar melhor o tempo.
Aprendi também sobre a relatividade do tempo. Muitas vezes tive a sensação de que iniciei esse doutorado ontem, mas bastava olhar para as crianças que me cercam que via em seus corpos a encarnação do tempo que passou. Algumas delas eu vi nascer, aprender a andar, a falar, começar a ler e escrever... enquanto isso eu pesquisava, lia, escrevia. Cinco anos pode ser o tempo de uma vida ou o intervalo de uma história.

E como tudo tem seu tempo, esse doutorado finalmente se encerra. Com uma sensação de que gastou mais tempo do que deveria, mas com a certeza de que meu tempo foi respeitado. Hoje entendo muito melhor do que há cinco anos atrás que cada um tem seu tempo! E aprendi que o meu vai ser do tamanho que eu precisar! Porque às vezes tudo o que a gente precisa é de um pouco mais de tempo...

Mirza Ferreira - dezembro de 2016

* Relato pessoal que escrevi como abertura do último capítulo de minha tese.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Espiritualidade...

"O Poder Superior para mim é o tempo, a vida, o amor, a amizade, o sopro de esperança presente até nos momentos mais difíceis, o mistério que me cerca, uma emoção inexplicável que faz o tempo parar, me faz me sentir muito bem e me traz um sorriso aos lábios, minha vontade de crescer e trazer luz para os meus e os outros. Na verdade, para mim, o Poder Superior não se explica por palavras. Sua existência é percebida não pelo intelecto, mas sim pelo coração. É como o vento, não se vê o vento, mas vemos as árvores em movimento, ouvimos o som e sentimos o vento no corpo."
(Renato Russo em Só por hoje e para sempre)
 
 

Amor...

"No recuerdo em qué momento empecé a querer a mi madre, pero así ocurrió. Tampoco sé cuándo empezó a quererme ella a mí, pero la certeza de que su amor está a mi disposición de forma ilimitada siempre ha estado ahí. Puedo usarlo como una espalda sobre una almohada o como una ermita; como un baño caliente, un jardín de mariposas o un río de lava líquida. Su amor es espinoso y complicado, y a veces puede hacerme daño en las zonas más sensibles. Pero ¿quién ha dicho que el amor o la vida son pan comido?"
(Pat Conroy em El primer verano de nuestras vidas)
 
 

domingo, 30 de março de 2014

Esse corpo sem fé

"De repente, seus olhos endureceram
e sua boca, bela boca,
era agora, não mais agora,
somente o som de uma palavra amarga.
De repente, o que era brisa virou vento frio
e sua pele, aquela pele macia, tornou-se gelo.
De repente, não mais que de repente,
foi necessário um adeus."

(Poema de Paulo Emílio Azevedo em Palavra Projétil: poesias além da escrita)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Corpo em êxtase

"Em algum lugar do Japão mítico, Amaterasu, deusa do Sol, enfurecida pelas travessuras do irmão, esconde-se em uma gruta e priva o mundo e os próprios deuses de sua luz divina. Uma reunião é realizada e muitos deuses vão até a gruta tentar dissuadir Amaterasu a sair para que o mundo conviva novamente com a luz. Alguns entoam canções sagradas, outros tocam instrumentos mágicos, mas Amaterasu está irredutível. A deusa Uzume, então, prende suas vestes, amarra uma faixa em torno da testa, sobe em um grande barril e começa a dançar e bater os pés. Com essa dança Uzume entra em êxtase e desnuda os seios e as partes íntimas. Nesse momento os outros deuses, vendo a situação na qual se encontra Uzume, soltam uma grande gargalhada. Amaterasu sai da gruta para ver o que está acontecendo, trazendo sua luz novamente ao mundo e palavras sagradas impedem que ela retorne".

(Apresentação do livro: Corpos em fuga, corpos em arte, de Renato Ferracini)

Imagem retirada do site: wiccafilhasdadeusa.blogspot.com


domingo, 8 de setembro de 2013

A escola que queremos...



No livro "The global achievement gap" Tony Wagner defende que a escola deve desenvolver sete "competências de sobrevivência" necessárias para que as crianças possam enfrentar os desafios futuros: pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Adiamento...


Adiamento – Álvaro de Campos
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não…
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico…
Esta espécie de alma…
Só depois de amanhã…
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte…
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos…
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã…
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã…
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância…
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital…
Mas por um edital de amanhã…
Hoje quero dormir, redigirei amanhã…
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo…
Antes, não…
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã…
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã…
Sim, talvez só depois de amanhã…
O porvir…
Sim, o porvir…