domingo, 27 de janeiro de 2013

A desmemória...

"(...) A certa altura, um bisavô encontra seu bisneto.
O bisavô está completamente lelé (seus pensamentos têm a cor da água) e sorri com o mesmo beatífico sorriso de seu bisneto recém-nascido. O bisavô é feliz porque perdeu a memória que tinha. O bisneto é feliz porque não tem, ainda, nenhuma memória.
Eis aqui, penso, a felicidade perfeita. Não a quero."

(Eduardo Galeano em O livro dos abraços)


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A paixão de dizer

"Esse homem, ou mulher, está grávido de muita gente. Gente que sai por seus poros. Assim mostram, em figuras de barro, os índios do Novo México: o narrador, o que conta a memória coletiva, está todo brotado de pessoinhas."

(Eduardo Galeano em O Livro dos Abraços)

Obra do artista Antony Gormley - Foto: Talita Terra

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O amor...


O amor, porém, é contagioso, com especialidade na solidão, onde a alma tem necessidade de uma companheira, e quando de todo não a encontra, dividi-se ela própria para ser duas: uma, esperança; outra, saudade.

Til, José de Alencar

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Felicidade

‎"Que a felicidade não dependa do tempo,nem da paisagem,nem da sorte,nem do dinheiro.Que ela possa vir com toda simplicidade, de dentro para fora, de cada um para todos. Que as pessoas saibam falar, calar e acima de tudo ouvir. Que tenham amor ou então sintam falta de não tê-lo.Que tenham idéias e medo de perdê-lo.Que amem ao próximo e respeitem sua dor.Para que tenhamos certeza de que: Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade".

 Carlos Drummond de Andrade


Formas de ser sábio...

Há exatamente duas maneiras de se tornar sábio. Uma delas é viajar pelo mundo e ver o máximo possível da criação divina. A outra é fincar raízes num único lugar e estudar tudo o que acontece ali com o máximo de detalhes. O problema é que é impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Jostein Gaarder em Mistério de Natal

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Deus segundo Espinoza


“Para de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. 

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. 
Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. 
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti. 
Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer. 
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro! 
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho? 
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. 
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? 
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso? 
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. 
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. 
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. 
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas. 
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. 
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. 
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. 
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. 
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. 
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste? 
Para de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar. 
Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?  Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. 
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. 
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. 
Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. 
Para que precisas de mais milagres? 
Para que tantas explicações? 
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, pulsando em ti”.


Recebi o texto por email e não citava a fonte! Se é mesmo de Espinoza não sei mas gostei! Me agrada a imagem que "ele" constrói de Deus!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém...

"(...) Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
  Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
  Que não são, embora sejam.
  Que não falam idiomas, falam dialetos.
  Que não praticam religiões, praticam superstições.
  Que não fazem arte, fazem artesanato.
  Que não são seres humanos, são recursos humanos.
  Que não têm cultura, e sim folclore.
  Que não têm cara, têm braços.
  Que não têm nome, têm número.
  Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
  Os ninguéns, que custam menos que a bala que os mata."

(Eduardo Galeano   em "O livro dos abraços")


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Se quiser falar com Deus...

"Teologia/2

O deus dos cristãos, Deus da minha infância, não faz amor. Talvez o único deus que nunca fez amor, entre todos os deuses de todas as religiões da história humana. Cada vez que penso nisso, sinto pena dele. E então o perdôo por ter sido meu superpai castigador, chefe de polícia do universo, e penso que afinal Deus também foi meu amigo naqueles velhos tempos, quando eu acreditava Nele e acreditava que Ele acreditava em mim. Então preparo a orelha, na hora dos rumores mágicos, entre o pôr-do-sol e o nascer subir da noite, e acho que escuto suas melancólicas confidências."

(Eduardo Galeano em "O livro dos abraços")

Fonte da imagem: Wikimedia Commons


O menino e o mar...

"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!"
(Eduardo Galeano em "O livro dos abraços")

Imagem retirada do site: docecomoachuva.blogspot.com.br




Feliz dia do leitor!

Já faz tempo que venho selecionando trechos de livros e de outras leituras querendo "guarda-los" em algum lugar. Mas ficava sempre a dúvida sobre onde seria o melhor lugar! Eu poderia fazer um caderninho onde eu copiasse esses trechos mas achei que era muito egoísta! Ficaria só pra mim! Criar arquivos digitais e guardar no meu computador, idem! 
A primeira ideia foi usar meu blog (Penseira da Mimi) mas achei que "fugia do tema" pois como diz o nome, criei esse blog pra registrar os meus pensamentos e não o dos outros... O que fazer? Criar outro blog! Esse sim para ser recheado de pensamentos, histórias, conversas, biografias de muitas pessoas!
Achei que hoje, DIA DO LEITOR, seria um bom dia para ele nascer!
Então, seja bem vindo ao "ENTRE PÁGINAS" e tenha um...