terça-feira, 15 de outubro de 2013

Corpo em êxtase

"Em algum lugar do Japão mítico, Amaterasu, deusa do Sol, enfurecida pelas travessuras do irmão, esconde-se em uma gruta e priva o mundo e os próprios deuses de sua luz divina. Uma reunião é realizada e muitos deuses vão até a gruta tentar dissuadir Amaterasu a sair para que o mundo conviva novamente com a luz. Alguns entoam canções sagradas, outros tocam instrumentos mágicos, mas Amaterasu está irredutível. A deusa Uzume, então, prende suas vestes, amarra uma faixa em torno da testa, sobe em um grande barril e começa a dançar e bater os pés. Com essa dança Uzume entra em êxtase e desnuda os seios e as partes íntimas. Nesse momento os outros deuses, vendo a situação na qual se encontra Uzume, soltam uma grande gargalhada. Amaterasu sai da gruta para ver o que está acontecendo, trazendo sua luz novamente ao mundo e palavras sagradas impedem que ela retorne".

(Apresentação do livro: Corpos em fuga, corpos em arte, de Renato Ferracini)

Imagem retirada do site: wiccafilhasdadeusa.blogspot.com


domingo, 8 de setembro de 2013

A escola que queremos...



No livro "The global achievement gap" Tony Wagner defende que a escola deve desenvolver sete "competências de sobrevivência" necessárias para que as crianças possam enfrentar os desafios futuros: pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Adiamento...


Adiamento – Álvaro de Campos
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não…
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico…
Esta espécie de alma…
Só depois de amanhã…
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte…
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos…
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã…
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã…
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância…
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital…
Mas por um edital de amanhã…
Hoje quero dormir, redigirei amanhã…
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo…
Antes, não…
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã…
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã…
Sim, talvez só depois de amanhã…
O porvir…
Sim, o porvir…

sexta-feira, 22 de março de 2013

Morte...


“Um bailarino, mais do que qualquer outro ser humano, tem duas mortes: a primeira, a física, quando o corpo vigorosamente treinado não responde mais como se desejaria. Afinal, eu coreografava para mim mesma. Nunca coreografei o que não podia fazer. (...) A última vez em que dancei foi em Cortege of Eagles. Tinha então 76 anos. (...) Não planejei parar de dançar naquela noite. Foi uma decisão dolorosa que eu sabia que tinha de tomar.”

(Martha Graham em Memórias de Sangue)


sexta-feira, 8 de março de 2013

Forjando a armadura, de Rudolf Steiner

"Nego a submeter-me ao medo
Que me tira a alegria de minha liberdade
Que não me deixa arriscar nada,
Que me torna pequeno e mesquinho,
Que me amarra,
Que não me deixa ser direto e franco,
Que me persegue,
Que ocupa negativamente a minha imaginação,
Que sempre pinta visões sombrias.
No entanto, não quero levantar barricadas por medo do medo.
Quero viver, não quero encarcerar-me.
Não quero ser amigável por ter medo de ser sincero.
Quero pisar firme porque estou seguro,
não para encobrir meu medo.
E quando me calo, quero fazê-lo por amor,
não por temer as consequências de minhas palavras.
Não quero acreditar em algo só pelo medo de não acreditar.
Não quero filosofar por medo de que algo possa atingir-me de perto.
Não quero dobrar-me só porque tenho medo de não ser amável.
Não quero impor algo aos outros
pelo medo de que possam impor algo a mim;
Por medo de errar, não quero tornar-me inativo.
Não quero fugir de volta para o velho, para o inaceitável,
por medo de não me sentir seguro novamente.
Não quero fazer-me de importante porque tenho medo de ser,
caso contrário, ignorado.
Por convicção e amor quero fazer o que faço
e deixar de fazer o que deixo de fazer.
Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao Amor.
E quero crer no reino que existe em mim.""


*Colaboração da querida Carla Ávila!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sobre árvores e mulheres...

"Toda árvore possui por baixo da terra uma versão primeva de si mesma. Por baixo da terra, a árvore venerável abriga "uma árvore oculta", feita de raízes vitais constantemente nutridas por águas invisíveis. A partir dessas radículas, a alma oculta da árvore empurra e energia para cima, para que sua natureza mais verdadeira, audaz e sábia viceje a céu aberto.
O mesmo acontece com a vida de uma mulher. Como a árvore, nõ importa em que condições ela esteja acima da terra, exuberante ou sujeita a enorme esforço... por baixo da terra existe "uma mulher oculta" que cuida do estopim dourado, aquela energia brilhante, aquela fonte profunda que nunca será extinta. "A mulher oculta está sempre procurando empurrar esse espírito essencial em busca da vida... para cima, para que atravesse o solo cego e consiga nutrir seu eu a céu aberto e o mundo ao seu alcance. Seus períodos de expansão e reinvenção dependem desse ciclo."

( Clarissa Pinkola Estés em A ciranda das mulheres sábias )

Imagem: César dos Anjos. Acessada em: cesardosanjos.blogspot.com

domingo, 27 de janeiro de 2013

A desmemória...

"(...) A certa altura, um bisavô encontra seu bisneto.
O bisavô está completamente lelé (seus pensamentos têm a cor da água) e sorri com o mesmo beatífico sorriso de seu bisneto recém-nascido. O bisavô é feliz porque perdeu a memória que tinha. O bisneto é feliz porque não tem, ainda, nenhuma memória.
Eis aqui, penso, a felicidade perfeita. Não a quero."

(Eduardo Galeano em O livro dos abraços)


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A paixão de dizer

"Esse homem, ou mulher, está grávido de muita gente. Gente que sai por seus poros. Assim mostram, em figuras de barro, os índios do Novo México: o narrador, o que conta a memória coletiva, está todo brotado de pessoinhas."

(Eduardo Galeano em O Livro dos Abraços)

Obra do artista Antony Gormley - Foto: Talita Terra

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O amor...


O amor, porém, é contagioso, com especialidade na solidão, onde a alma tem necessidade de uma companheira, e quando de todo não a encontra, dividi-se ela própria para ser duas: uma, esperança; outra, saudade.

Til, José de Alencar

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Felicidade

‎"Que a felicidade não dependa do tempo,nem da paisagem,nem da sorte,nem do dinheiro.Que ela possa vir com toda simplicidade, de dentro para fora, de cada um para todos. Que as pessoas saibam falar, calar e acima de tudo ouvir. Que tenham amor ou então sintam falta de não tê-lo.Que tenham idéias e medo de perdê-lo.Que amem ao próximo e respeitem sua dor.Para que tenhamos certeza de que: Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade".

 Carlos Drummond de Andrade


Formas de ser sábio...

Há exatamente duas maneiras de se tornar sábio. Uma delas é viajar pelo mundo e ver o máximo possível da criação divina. A outra é fincar raízes num único lugar e estudar tudo o que acontece ali com o máximo de detalhes. O problema é que é impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Jostein Gaarder em Mistério de Natal

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Deus segundo Espinoza


“Para de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. 

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. 
Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. 
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti. 
Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer. 
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro! 
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho? 
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. 
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? 
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso? 
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. 
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. 
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. 
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas. 
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. 
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. 
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. 
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. 
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. 
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste? 
Para de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar. 
Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?  Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. 
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. 
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. 
Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. 
Para que precisas de mais milagres? 
Para que tantas explicações? 
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, pulsando em ti”.


Recebi o texto por email e não citava a fonte! Se é mesmo de Espinoza não sei mas gostei! Me agrada a imagem que "ele" constrói de Deus!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém...

"(...) Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
  Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
  Que não são, embora sejam.
  Que não falam idiomas, falam dialetos.
  Que não praticam religiões, praticam superstições.
  Que não fazem arte, fazem artesanato.
  Que não são seres humanos, são recursos humanos.
  Que não têm cultura, e sim folclore.
  Que não têm cara, têm braços.
  Que não têm nome, têm número.
  Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
  Os ninguéns, que custam menos que a bala que os mata."

(Eduardo Galeano   em "O livro dos abraços")


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Se quiser falar com Deus...

"Teologia/2

O deus dos cristãos, Deus da minha infância, não faz amor. Talvez o único deus que nunca fez amor, entre todos os deuses de todas as religiões da história humana. Cada vez que penso nisso, sinto pena dele. E então o perdôo por ter sido meu superpai castigador, chefe de polícia do universo, e penso que afinal Deus também foi meu amigo naqueles velhos tempos, quando eu acreditava Nele e acreditava que Ele acreditava em mim. Então preparo a orelha, na hora dos rumores mágicos, entre o pôr-do-sol e o nascer subir da noite, e acho que escuto suas melancólicas confidências."

(Eduardo Galeano em "O livro dos abraços")

Fonte da imagem: Wikimedia Commons


O menino e o mar...

"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!"
(Eduardo Galeano em "O livro dos abraços")

Imagem retirada do site: docecomoachuva.blogspot.com.br




Feliz dia do leitor!

Já faz tempo que venho selecionando trechos de livros e de outras leituras querendo "guarda-los" em algum lugar. Mas ficava sempre a dúvida sobre onde seria o melhor lugar! Eu poderia fazer um caderninho onde eu copiasse esses trechos mas achei que era muito egoísta! Ficaria só pra mim! Criar arquivos digitais e guardar no meu computador, idem! 
A primeira ideia foi usar meu blog (Penseira da Mimi) mas achei que "fugia do tema" pois como diz o nome, criei esse blog pra registrar os meus pensamentos e não o dos outros... O que fazer? Criar outro blog! Esse sim para ser recheado de pensamentos, histórias, conversas, biografias de muitas pessoas!
Achei que hoje, DIA DO LEITOR, seria um bom dia para ele nascer!
Então, seja bem vindo ao "ENTRE PÁGINAS" e tenha um...